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Minhas Artérias Romperão


Reclamei ao sentir uma dor aguda em meu peito, incapacitando minha respiração. Era um dos meus maiores medos, e lá estava eu, agonizando e chorando, sem forças e aos prantos. No entanto, não importa o quão fundo do poço eu esteja, sempre há uma corda para eu me segurar.

Ao me levantar, dirigi-me ao portão, e um silêncio estranho envolveu meus ouvidos. Não havia gritos, nem choros que me fizessem voltar. Eu apenas precisava caminhar sem rumo, permitindo que minhas emoções me guiassem, pelo menos uma vez na vida. E assim foi feito.


Não se passaram nem dez minutos desde que saí de casa, e eu já estava prestes a ter uma parada cardíaca. A combinação do cansaço, euforia e a dor no meu peito me fez questionar, fazendo minha razão prevalecer. Estaria eu arrependida? Afinal, estava chorando por uma dor que eu mesma causei. Decidi entrar na loja ao lado e pedir um copo de água. Ao passar pela porta e sentir o ar fresco e as diversas plantas, instantaneamente me acalmei. Minha audição retornou gradualmente, e pude ouvir uma suave melodia que me instigou a segui-la. O lugar exalava um aroma nostálgico.


Estava no meio de um paraíso; ao redor de mim, lacunas altas e intimidadoras exibiam uma imensa diversidade de livros que exalava poder. E eu só queria que fosse possível ter a chance de desfrutar de ponta a ponta daquele lugar. Haviam traços delicados em dourado em todas as paredes, representando a riqueza daquele lugar, e como se não bastasse o dourado do ouro, ainda podia ser visto os raios de sol pela enorme janela arredondada sobre um modesto sofá. Era exatamente disso que eu precisava.


Sem pensar muito, aproximei-me de uma estante e escolhi o primeiro livro que me chamou a atenção. Sua capa estava um pouco desgastada, mas era possível ver um título em tons escuros: "Minhas Artérias Romperão". Pensei que esse livro certamente não seria o ideal para minha situação, mas deixei que minha emoção e curiosidade me guiassem.


Não fazia muito tempo desde que comecei a ler o livro, e já estava envolvida por sua melancolia, esperança e escrita envolvente. Nunca me senti assim com um livro antes. Nas primeiras páginas, poderia passar horas absorvendo lições sobre minha própria felicidade. Nas seguintes, sobre companhia e suas diversas formas, sobre seletividade, sobre esperar e ter medo de amar e errar. No entanto, nas últimas páginas, como se tudo o que aprendi estivesse errado, o protagonista mencionou sua amada.


"Nataniel suspirou. Não posso ter certeza de que fui a pessoa certa, e talvez há muito tempo não estaríamos juntos. No entanto, é neste presente que eu escolho te amar para sempre. Madalena, olhando para o horizonte, respondeu com introspecção: você já parou para questionar a vastidão do mar diante de nós? Quantos caminhos podemos percorrer? Nunca percorreremos o mesmo trajeto duas vezes. As correntezas, a indiferença e o mistério que nos envolvem não permitem. Então, por que arriscar? Com um olhar determinado, ele a retrucou: enquanto estivermos no mar, apenas nademos. Chorar não mudará a quantidade de água, e nenhum riso ou grito será ouvido. Mas se nadarmos em direção a algum lugar, alcançaremos. Arrisque-se, mergulhe e aprofunde-se. Não tema romper suas artérias em prol do amor, porque não permitirei que isso aconteça. Estarei lá para segurá-la e puxá-la de volta para mim. E ela, perdida em seu pensamentos, murmurou consigo mesma, como fui me deixar levar por um ser que eu julgava ser tão raso? Entretanto, só pode ter sido isso. Preparei-me para mergulhar em águas rasas e me encontrei nas profundezas de seu olhar, aqueles olhos azuis e transparentes como o mar que eu tanto amo."


Foi neste final de livro que a corda que me segurava se rompeu. Meu coração se transformou em aço, à espera de um final trágico, mas foi pior. Coloquei-me em uma situação que jamais poderia imaginar, um amor que rompe corações, um amor intenso. Preferiria um final triste, que rompe e destrói o peito, a fim de ter a verdade nua, do que um final ilusório.


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