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Afinal quem é Netuno?


O eco de "Todos a bordo" ressoou em meu ser, um chamado que rompeu a monotonia de minha rotina inundada por uma overdose de dopamina. O êxtase se apossou de mim ao descobrir minha indicação para uma pesquisa em alto mar, apesar de meu receio diante da vastidão oceânica. Curiosamente, encontrava liberdade nas águas, mesmo sabendo que estaria confinada em um transporte por seis longos meses.


Ao adentrar o navio, a palavra "Netuno" em letras majestosas decorava a entrada de uma cabine, presumivelmente a do capitão. Curiosidade guiou-me por esse pequeno mundo flutuante até meu aconchegante quarto. Apesar de modesto, o espaço emanava conforto. Sobre a cama, uma pequena manta de tricô em tons de verde e azul despertava uma nostalgia precoce, provocando uma saudade antecipada.


Minha estadia aqui, no centro de pesquisa, foi marcada por uma sensação de fracasso recente. As coisas não seguiam o curso que imaginava, até que a frase "Mudança de Rota" ecoou da cabine do capitão, rompendo a calmaria. Uma tempestade iminente nos forçava a recuar, desviando-me do habitat da espécie que buscava. O lamento inicial transformou-se em pavor quando o balanço agressivo do barco despertou meu medo do oceano.

Desorientada, acabei na frente da cabine do capitão. Ao adentrar, fui recebida por um homem de estatura imponente e cabelos acinzentados, aparentemente jovem, que se apresentou como "Netuno". A confusão inicial deu lugar a um diálogo inesperado, onde o capitão revelou-se receptivo e até mesmo compartilhou sua fascinação por uma esfera chamada "Tritão".


Diante da vista, Netuno quebrou o gelo, e a calma se estabeleceu no barco. A troca de palavras e o sorriso leve do capitão trouxeram um alívio momentâneo. Agradeci pela breve conversa e retornei ao meu trabalho, deixando-o na varanda, contemplando o horizonte.

De volta ao centro de pesquisa, uma pontada de inveja me levou a revisitar a vista. A ondulação suave do mar me fez refletir sobre a transformação daquela onda de harmonia que, há pouco, temia. Ao inspirar o aroma salgado, senti a esperança no ar. A brisa purificadora preencheu meus pulmões, sugerindo uma abundância de oxigênio naquele espaço. Em um momento de clareza, percebi a oportunidade que se desdobrava diante de mim.


Em um ágil movimento, corri em direção aos meus colegas, assumindo a responsabilidade pelos custos da mudança de curso, convicta de que ali, no fundo do oceano, encontraria o que buscava. Na primeira tentativa, descobri a pérola, tão fascinante quanto o amuleto de Netuno. Batizei-a de "Tritão", nosso talismã que resgatou o bioma dos oceanos.


Após horas de celebração, questionei a um colega sobre o porquê de Netuno não estar conosco. Entendia sua ocupação no navio, mas custava uma breve aparição? Recebi uma resposta simples, alegando que não existia nenhum Netuno, e me vi nos abismos do oceano, em um vazio preenchido por inexplicações. Em poucos segundos, percebi-me correndo pela amplitude do vazio em busca de um ser que, mesmo desconhecido, tinha uma conexão. Por Tritão, eu poderia sentir, mas com as buscas sem sucesso, fiz-me uma estúpida pergunta: afinal, quem era Netuno?

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